As palavras que se seguem, atribuídas a Jesus, foram extraídas do Evangelho de AGRAPHA, um dos cento e treze Evangelhos Apócrifos. Esses escritos são considerados apócrifos por não pertencerem ao canôn da Igreja Católica que aceita apenas quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, estes considerados Evangelhos canônicos.
Os Evangelhos apócrifos muitas vezes apresentam versões diametralmente opostas aos fatos narrados pelos Evangelhos bíblicos, mas assim como aqueles, são tão ou mais espiritualmente profundos.
Por isso, nesta época de Natal, quando o canto da sereia capitalista se faz ouvir mais alto em nossos ouvidos e pouco nos lembramos do verdadeiro significado da data, fui buscar, intencionalmente fora da Bíblia um pouco da sabedoria transmitida por Jesus.
Disse Jesus: — Fiz-me fraco pelos fracos e passei fome pelos famintos e sede pelos sedentos
Compadecei-vos para que tenham compaixão de vós; perdoai para que
vos perdoem; conforme vosso comportamento em relação aos demais, assim será o deles com relação a vós; do mesmo modo que dais, se vos dará; como julgais, assim sereis julgados; na medida em que sejais bons, usarão de benevolência para convosco; a vara com que medis, servirá de medida para vós mesmos.
Quantas são as árvores! Mas nem todas dão frutos. Quantos são os
frutos! Mas nem todos são bons. Quantas são as ciências! Mas nem todas são úteis.
Não se atiram pérolas aos porcos, pois a sabedoria vale mais que as
pérolas, e quem a deprecia, é pior que os porcos.
Conta-se que Jesus disse a seus apóstolos: — Não vos ensinei a glorificar-vos, mas a trabalhar. A sabedoria não consiste certamente em palavras de sabedoria, mas em sabedoria aplicada.
Coisa mais gloriosa, feliz e perfeita é dar e não receber.
A qualquer um que te peça, dá-lhe.
UM NATAL FELIZ, COM MUITA PAZ E SAÚDE.
QUE AS REALIZAÇÕES PESSOAIS CONQUISTADAS NO PRÓXIMO ANO, POSSAM DE ALGUMA FORMA AJUDAR A MELHORAR UM POUCO A HUMANIDADE.
PROFESSOR LUIZ ANTONIO
blog do professor luiz antonio canuto
Educação & Cultura
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
A REPÚBLICA E O BRASIL
Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, há 121 anos, o Brasil despediu-se da monarquia e entrou na era republicana.
Os alicerces da monarquia, vinham há muito em processo de corrosão. Os oficiais do exército insatisfeitos com a pouca participação política à, qual estavam submetidos; a Igreja Católica, humilhada com a questão maçônica e os grandes produtores de café do oeste paulista, sentido-se traídos com a abolição da escravidão, em 1888, e descontentes com a destinação dada pelo governo central aos impostos arrecadados com a exportação do café que queriam ver aplicados na própria Província de São Paulo, reuniram-se em torno da construção de um novo edifício, o da República, cujo primeiro sindico foi o Marechal Deodoro da Fonseca. No dia 14 de novembro de 1889, o Brasil foi dormir Monarquia e despertou na manhã seguinte como República. O povo não compreendeu nada. Aceitou passivamente e com cara de bobo a implantação do novo sistema de governo e, ao que parece, não compreende até hoje o que seja uma República.
O que é República afinal?
No século V a C., o filosofo grego Platão, discípulo de Sócrates, escreveu uma obra fundamental para o pensamento político ocidental: Politeia, que, em sua versão latina recebeu o nome de “A República”. O termo politeia significa constituição ou forma de governo de uma polis (cidade-estado). A obra de Platão descreve um sistema de governo baseado na justiça e na educação como fundamentos necessários para que se atinja a felicidade. Pela justiça alcança-se o bem social e pela educação virtuosa e integral das crianças e dos jovens, formam-se homens esclarecidos e conscientes de sua função social. O bem da coletividade está acima das vicissitudes individuais. Portanto, para Platão, o principio moral que norteia a sociedade ideal é o da justiça coletiva, sem a qual não é possível a sua construção.
Foi o caráter abrangente da vida pública de uma polis, que a Politeia aborda, que fez com que na Roma Antiga, a obra de Platão recebesse o título de “A República”, que em latim significa “coisa pública”, e pelo qual cristalizou-se ao longo dos séculos.
O sistema republicano adotado em Roma, entre os séculos VI a C., e I a C., era gerido pelos patrícios. O Senado era o órgão máximo de poder, que tinha as funções legislativa e administrativa, incluindo aí as finanças. O Senado era dividido em diversas funções: Consulês, Pretores, Censores, Edis, e Questores. Havia também as Assembléias, que nomeavam os magistrados e ratificavam as leis propostas pelo Senado.
No sistema de governo republicano, o poder emana do povo que elege o chefe de Estado, (atualmente o Presidente da República). Numa República o governo deve atender aos anseios do cidadão e o bem comum de toda a população.
O termo “República” está associado a outro, e com o qual chega-se a confundir: “Democracia”. O sistema republicano sustenta-se sobre as liberdades e instituições democráticas e, em geral, o liberalismo econômico; porém é comum que governos autoritários também intitulem-se republicanos, ou até mesmo democráticos, como era o caso da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que viveu sob regime comunista entre os anos de 1922 e 1991; a República de Cuba, que desde 1959 vive sob a ditadura comunista implantada por Fidel Castro, cujo poder atualmente encontra-se nas mãos de seu irmão Rui Castro; a República Popular Democrática da Coréia (Coréia do Norte), também sob regime comunista desde o final da Segunda Guerra Mundial; e a República Popular da China, comunista desde 1949 e que a partir de 1978 adotou o modelo econômico capitalista e que hoje é a segunda maior economia do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Como podemos ver com os exemplos acima, o termo República pode ser apropriado pelos governos, porém seus fundamentos nem sempre são respeitados já que em países autoritários que intitulam-se republicanos ou democráticos adota-se a política do partido único, não havendo eleições para chefe de Estado, concorrendo a censura dos meios de comunicação e os direitos humanos sendo amplamente desrespeitados. Já em países de tradição republicana, a democracia tende a ser aperfeiçoada ininterruptamente, com o aprimoramento de suas instituições, das condições sócio-econômicas de sua população, com investimentos em educação e saúde para a melhora da qualidade de vida de todos os cidadãos, sem exclusões de nenhuma espécie.
E a República brasileira?
No Brasil, a República foi instaurada, como vimos, graças a um golpe militar, uma quartelada, para atender aos anseios, principalmente da oligarquia dos grandes produtores de café de São Paulo. Ao longo de sua curta história, a República brasileira veio a sofrer duros golpes. Nos anos 30, a instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas; em 1945 um novo recomeço, dentro de uma normalidade democrática, interrompida em 1964 por outro golpe militar, que teve como pretexto combater a velha “ameaça comunista”, um fantasma que habitava os piores pesadelos das elites nacionais e que já havia sido suscitado, artificialmente, em 1937 por Getúlio. O golpe de 64 foi o mais duro de todos. A ditadura militar durou 21 anos e ainda dorme como um esqueleto no armário de quem viveu aqueles pesados anos.
Desde 1985 o Brasil vive um processo de redemocratização. Estamos reaprendendo a lidar com a liberdade de escolha. Hoje podemos eleger um presidente ligado às esquerdas sem sobressaltos, porém nossas instituições ainda são arcaicas; a qualidade de vida do brasileiro está em descompasso com nossos avanços na economia (somos a 8ª economia do mundo, mas nosso IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, nos coloca na 75ª posição entre os países membros da ONU); a educação pública no Brasil vai de mal a pior, isso sem falar na saúde e na violência, tema que mais preocupa a população hoje. No balneário dos países mais ricos do mundo, o Brasil anda como caranguejo, isto é, de lado. Ao contrário do que políticos e a imprensa propagam, ainda somos uma semidemocracia. Temos muito o que remar até atingir as águas mais tranquilas onde navegam os países que estão na vanguarda daqueles que oferecem aos seus cidadãos a melhor qualidade de vida.
Chegaremos lá um dia, se soubermos cuidar de nossa “coisa pública” como verdadeiros cidadãos.
Professor Luiz Antonio Canuto
Os alicerces da monarquia, vinham há muito em processo de corrosão. Os oficiais do exército insatisfeitos com a pouca participação política à, qual estavam submetidos; a Igreja Católica, humilhada com a questão maçônica e os grandes produtores de café do oeste paulista, sentido-se traídos com a abolição da escravidão, em 1888, e descontentes com a destinação dada pelo governo central aos impostos arrecadados com a exportação do café que queriam ver aplicados na própria Província de São Paulo, reuniram-se em torno da construção de um novo edifício, o da República, cujo primeiro sindico foi o Marechal Deodoro da Fonseca. No dia 14 de novembro de 1889, o Brasil foi dormir Monarquia e despertou na manhã seguinte como República. O povo não compreendeu nada. Aceitou passivamente e com cara de bobo a implantação do novo sistema de governo e, ao que parece, não compreende até hoje o que seja uma República.
O que é República afinal?
No século V a C., o filosofo grego Platão, discípulo de Sócrates, escreveu uma obra fundamental para o pensamento político ocidental: Politeia, que, em sua versão latina recebeu o nome de “A República”. O termo politeia significa constituição ou forma de governo de uma polis (cidade-estado). A obra de Platão descreve um sistema de governo baseado na justiça e na educação como fundamentos necessários para que se atinja a felicidade. Pela justiça alcança-se o bem social e pela educação virtuosa e integral das crianças e dos jovens, formam-se homens esclarecidos e conscientes de sua função social. O bem da coletividade está acima das vicissitudes individuais. Portanto, para Platão, o principio moral que norteia a sociedade ideal é o da justiça coletiva, sem a qual não é possível a sua construção.
Foi o caráter abrangente da vida pública de uma polis, que a Politeia aborda, que fez com que na Roma Antiga, a obra de Platão recebesse o título de “A República”, que em latim significa “coisa pública”, e pelo qual cristalizou-se ao longo dos séculos.
O sistema republicano adotado em Roma, entre os séculos VI a C., e I a C., era gerido pelos patrícios. O Senado era o órgão máximo de poder, que tinha as funções legislativa e administrativa, incluindo aí as finanças. O Senado era dividido em diversas funções: Consulês, Pretores, Censores, Edis, e Questores. Havia também as Assembléias, que nomeavam os magistrados e ratificavam as leis propostas pelo Senado.
No sistema de governo republicano, o poder emana do povo que elege o chefe de Estado, (atualmente o Presidente da República). Numa República o governo deve atender aos anseios do cidadão e o bem comum de toda a população.
O termo “República” está associado a outro, e com o qual chega-se a confundir: “Democracia”. O sistema republicano sustenta-se sobre as liberdades e instituições democráticas e, em geral, o liberalismo econômico; porém é comum que governos autoritários também intitulem-se republicanos, ou até mesmo democráticos, como era o caso da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que viveu sob regime comunista entre os anos de 1922 e 1991; a República de Cuba, que desde 1959 vive sob a ditadura comunista implantada por Fidel Castro, cujo poder atualmente encontra-se nas mãos de seu irmão Rui Castro; a República Popular Democrática da Coréia (Coréia do Norte), também sob regime comunista desde o final da Segunda Guerra Mundial; e a República Popular da China, comunista desde 1949 e que a partir de 1978 adotou o modelo econômico capitalista e que hoje é a segunda maior economia do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Como podemos ver com os exemplos acima, o termo República pode ser apropriado pelos governos, porém seus fundamentos nem sempre são respeitados já que em países autoritários que intitulam-se republicanos ou democráticos adota-se a política do partido único, não havendo eleições para chefe de Estado, concorrendo a censura dos meios de comunicação e os direitos humanos sendo amplamente desrespeitados. Já em países de tradição republicana, a democracia tende a ser aperfeiçoada ininterruptamente, com o aprimoramento de suas instituições, das condições sócio-econômicas de sua população, com investimentos em educação e saúde para a melhora da qualidade de vida de todos os cidadãos, sem exclusões de nenhuma espécie.
E a República brasileira?
No Brasil, a República foi instaurada, como vimos, graças a um golpe militar, uma quartelada, para atender aos anseios, principalmente da oligarquia dos grandes produtores de café de São Paulo. Ao longo de sua curta história, a República brasileira veio a sofrer duros golpes. Nos anos 30, a instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas; em 1945 um novo recomeço, dentro de uma normalidade democrática, interrompida em 1964 por outro golpe militar, que teve como pretexto combater a velha “ameaça comunista”, um fantasma que habitava os piores pesadelos das elites nacionais e que já havia sido suscitado, artificialmente, em 1937 por Getúlio. O golpe de 64 foi o mais duro de todos. A ditadura militar durou 21 anos e ainda dorme como um esqueleto no armário de quem viveu aqueles pesados anos.
Desde 1985 o Brasil vive um processo de redemocratização. Estamos reaprendendo a lidar com a liberdade de escolha. Hoje podemos eleger um presidente ligado às esquerdas sem sobressaltos, porém nossas instituições ainda são arcaicas; a qualidade de vida do brasileiro está em descompasso com nossos avanços na economia (somos a 8ª economia do mundo, mas nosso IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, nos coloca na 75ª posição entre os países membros da ONU); a educação pública no Brasil vai de mal a pior, isso sem falar na saúde e na violência, tema que mais preocupa a população hoje. No balneário dos países mais ricos do mundo, o Brasil anda como caranguejo, isto é, de lado. Ao contrário do que políticos e a imprensa propagam, ainda somos uma semidemocracia. Temos muito o que remar até atingir as águas mais tranquilas onde navegam os países que estão na vanguarda daqueles que oferecem aos seus cidadãos a melhor qualidade de vida.
Chegaremos lá um dia, se soubermos cuidar de nossa “coisa pública” como verdadeiros cidadãos.
Professor Luiz Antonio Canuto
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
poética 3
desintegrar a palavra
deixar no ar apenas o seu cheiro
como o cheiro de deus
desintegrar a palavra
deixar no ar apenas as partículas
como o pó que flutua na luz
desintegrar a palavra
deixar no ar apenas a ilusão
a ilusão da palavra
que uma vez foi poesia
Luiz Antonio Canuto
deixar no ar apenas o seu cheiro
como o cheiro de deus
desintegrar a palavra
deixar no ar apenas as partículas
como o pó que flutua na luz
desintegrar a palavra
deixar no ar apenas a ilusão
a ilusão da palavra
que uma vez foi poesia
Luiz Antonio Canuto
terça-feira, 19 de outubro de 2010
POÉTICA 2
o segundo momento destes versos perversos
é o do dito pelo não dito
é o momento da via crucis pela via lactea
é o momento de ler o livro não publicado
e o poema sujo
é o momento de interromper o traço
descosturar o trapo
recolher as sobras e os retalhos
é o momento em que na sombra
se ouve o grito
e no qual o culpado fica esquecido
é o momento em que o que destrói
é o mesmo que reconstrói
este segundo momento
é o momento em que os fins justificam os meios
e o anjo se torna um filho da puta
é a hora em que a faca cega
faz sua tatuagem de sangue
em que os roto e o rasgado
se mostram à face do sagrado
é o momento de ser e não ser
de crer e não crer
de ver e deixar de ver
é o momento em que o crime
se torna castigo
é o momento em que o poeta digital
e o profeta periférico
dizem que nada será como ontem
assim como nada será como amanhã
e que o hoje esvai-se pelos dedos
e o poema soletra-se de cabeça para baixo
de baixo para cima
de dentro para fora
e de fora para dentro
Luiz Antonio Canuto
é o do dito pelo não dito
é o momento da via crucis pela via lactea
é o momento de ler o livro não publicado
e o poema sujo
é o momento de interromper o traço
descosturar o trapo
recolher as sobras e os retalhos
é o momento em que na sombra
se ouve o grito
e no qual o culpado fica esquecido
é o momento em que o que destrói
é o mesmo que reconstrói
este segundo momento
é o momento em que os fins justificam os meios
e o anjo se torna um filho da puta
é a hora em que a faca cega
faz sua tatuagem de sangue
em que os roto e o rasgado
se mostram à face do sagrado
é o momento de ser e não ser
de crer e não crer
de ver e deixar de ver
é o momento em que o crime
se torna castigo
é o momento em que o poeta digital
e o profeta periférico
dizem que nada será como ontem
assim como nada será como amanhã
e que o hoje esvai-se pelos dedos
e o poema soletra-se de cabeça para baixo
de baixo para cima
de dentro para fora
e de fora para dentro
Luiz Antonio Canuto
terça-feira, 12 de outubro de 2010
poética
quem trás a faca entre os dentes
e sangra a primavera nos pulsos
quem tem sangue nos olhos
e guarda o espírito de um caçador ancestral
com sua lança absoluta apontada para o futuro
quem é nômade do infinito
e caminha por horizontes cingidos e destinos perdidos
e repisa o lodo do caos a cada minuto
atravessando descalço cenários sem deuses
quem multiplica os peixes
e com frutos proibidos sacia os famintos
quem chega sem que ninguém espere
com uma bagagem que ficou para trás
quem sabe que para além de toda metafisica
não há sutilezas nem grandezas
e que não teme errar
em alcançar certas visões com as próprias mãos
sabe que poesia nada cobra
e não deixa sombra de dúvidas
e sangra a primavera nos pulsos
quem tem sangue nos olhos
e guarda o espírito de um caçador ancestral
com sua lança absoluta apontada para o futuro
quem é nômade do infinito
e caminha por horizontes cingidos e destinos perdidos
e repisa o lodo do caos a cada minuto
atravessando descalço cenários sem deuses
quem multiplica os peixes
e com frutos proibidos sacia os famintos
quem chega sem que ninguém espere
com uma bagagem que ficou para trás
quem sabe que para além de toda metafisica
não há sutilezas nem grandezas
e que não teme errar
em alcançar certas visões com as próprias mãos
sabe que poesia nada cobra
e não deixa sombra de dúvidas
sábado, 21 de agosto de 2010
HOMENAGEM A GARCIA LORCA
Granada, Espanha, 19 de agosto de 1936, um poeta é assassinado pelo fascismo de Franco: FREDERICO GARCIA LORCA
ROMANCE SONÂMBULO
A Gloria Giner e Fernando de Los Rios
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco no mar
E o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
Ela sonha em seu balcão,
Verde carne, pêlo verde,
Com os olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Sob a lua gitana,
As coisas a estão olhando
E ela não pode olha-las
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha,
Vêm com o peixe de sombra
Que abre o caminho da alba.
A figueira esfrega o seu vento
Com a lixa de seus ramos,
E o monte, gato larápio,
Eriça suas pitas acres.
Mas quem virá? E por onde...?
Ela continua em seu balcão,
Verde carne, pêlo verde,
Sonhando com o mar amargo.
Compadre, quero trocar
Meu cavalo por sua casa,
Meu arreio por seu espelho,
Minha faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando,
Desde os portos de Cabra.
Se eu pudesse, mocinho,
Esse rato se fechava.
Porém eu já não sou eu,
Nem meu lar é mais meu lar.
Compadre, quero morrer
Decentemente em minha cama.
De aço, se puder ser,
Com os lençóis de Holanda.
Não vês a ferida que tenho
Do peito até a garganta?
Trezentas rosas morenas
Traz o teu peitilho branco.
Teu sangue ressuma e cheira
Ao redor de tua faixa.
Porém eu já não sou eu,
Nem meu lar é mais meu lar.
Deixa-me subir!, deixai-me
Até as verdes varandas.
Corrimões da lua
Por onde retumba a água.
Já sobem os dois compadres
Rumo às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam nos telhados
Candeeirinhs de lata.
Mil pandeiros de cristal
Feriam a madrugada.
Verde que te quero verde,
Verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O longo vento deixava
Na boca um raro gosto
De fel, de menta e alfavaca.
Compadre! Onde estás, dize-me?
Onde está a tua jovem amarga?
Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
Rosto fresco, cabelo negro,
Nesta verde varanda!
Sobre a boca da cisterna
Embalava-se a gitana.
Verde carne, pêlo verde,
Com olhos de fria prata.
Um carambano de lua
Sustenta-se sobre a água.
A noite tornou-se íntima
Como uma pequena praça.
Os guardas, bêbados,
Davam murros na porta.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco no mar.
E o cavalo na montanha.
Frederico Garça Lorca (1898-1936)
ROMANCE SONÂMBULO
A Gloria Giner e Fernando de Los Rios
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco no mar
E o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura
Ela sonha em seu balcão,
Verde carne, pêlo verde,
Com os olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Sob a lua gitana,
As coisas a estão olhando
E ela não pode olha-las
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha,
Vêm com o peixe de sombra
Que abre o caminho da alba.
A figueira esfrega o seu vento
Com a lixa de seus ramos,
E o monte, gato larápio,
Eriça suas pitas acres.
Mas quem virá? E por onde...?
Ela continua em seu balcão,
Verde carne, pêlo verde,
Sonhando com o mar amargo.
Compadre, quero trocar
Meu cavalo por sua casa,
Meu arreio por seu espelho,
Minha faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando,
Desde os portos de Cabra.
Se eu pudesse, mocinho,
Esse rato se fechava.
Porém eu já não sou eu,
Nem meu lar é mais meu lar.
Compadre, quero morrer
Decentemente em minha cama.
De aço, se puder ser,
Com os lençóis de Holanda.
Não vês a ferida que tenho
Do peito até a garganta?
Trezentas rosas morenas
Traz o teu peitilho branco.
Teu sangue ressuma e cheira
Ao redor de tua faixa.
Porém eu já não sou eu,
Nem meu lar é mais meu lar.
Deixa-me subir!, deixai-me
Até as verdes varandas.
Corrimões da lua
Por onde retumba a água.
Já sobem os dois compadres
Rumo às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam nos telhados
Candeeirinhs de lata.
Mil pandeiros de cristal
Feriam a madrugada.
Verde que te quero verde,
Verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O longo vento deixava
Na boca um raro gosto
De fel, de menta e alfavaca.
Compadre! Onde estás, dize-me?
Onde está a tua jovem amarga?
Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
Rosto fresco, cabelo negro,
Nesta verde varanda!
Sobre a boca da cisterna
Embalava-se a gitana.
Verde carne, pêlo verde,
Com olhos de fria prata.
Um carambano de lua
Sustenta-se sobre a água.
A noite tornou-se íntima
Como uma pequena praça.
Os guardas, bêbados,
Davam murros na porta.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco no mar.
E o cavalo na montanha.
Frederico Garça Lorca (1898-1936)
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
A POESIA PRÉ-COLOMBIANA DOS ASTECAS
Por: Luiz Antonio Canuto
Em sua capital, os astecas criaram escolas e academias que ensinavam aos jovens a arte das “palavras belas".
Os astecas, ou mexicas, dominaram a maior parte do México, do Atlãntico ao Pacífico, até a Guatemala, do século XIII até o ano de 1519, quando chegaram os conquistadores espanhóis.
A língua dos astecas, o náhtl (cujo significado é “sonoro”, “audível”, era parte de uma família linguística, cujos dialetos estendiam-se desde o atual Utha (EUA) até a Nicarágua. O náhuatl era um idioma rico e versátil, igualmente apto a registrar com precisão os acontecimentos e a denotar idéias abstratas ou construir longos discursos sentenciosos, muito apreciados pelos Mexicanos. Por sua estrutura gramatical e fonologia, presta-se a paralelismos de sons e sentidos, a rimas e figuras de retórica.
Os primeiros nahuas chegram ao Vale do México por volta do século V d. C., vindos do nordeste, de Michoacán e Jalisco. Por volta do ano 900 d. C., uma nova onda de imigrantes nahua penetraram a região das grandes civilizações da Mesoamérica.
México-Tenochotlan, a capital asteca, foi fundada em 1325, a partir daí, os astecas ampliaram seus domínios para o centro e o sul da planície mexicana, levando à difusão da língua nahuatl, que não era imposta aos povos dominados, mas estes acabavam incorporando algumas de suas palavras e expressões.
Na capital foram criadas escolas e academias com o objetivo de ensinar aos jovens a arte de memorizar, recitar e cantar “palavras belas”. Nos templos, autores de poesia e canto eram pagos para prestarem serviços aos sacerdotes e à nobreza. Na cidade de Texcoco, o conselho de música organizava concursos de poesia. O rei Nezualcoyotl foi um dos principais poetas de seu tempo. Suas odes refletem uma filosofia serena e desiludida.
Os temas dos poemas e cantos astecas eram a beleza da vida, do mundo, das flores e a morte; eram organizados em ciclos, que também poderiam ser épicos, míticos ou históricos.
Os astecas deixaram suas obras literárias registradas em escrita pictografica. Seus livros são conhecidos hoje como “Códices”.
Trecho do poema “PEQUENA DANÇA DE NETZAHUALCÓYOTL” (Baliete de Netzahualcóyotl)
Cantares mexicanos (c. 1500)
Terceiro tempo:
Diálogo entre dois poetas disfarçados de aves
Tozquécol
Sou papagaio amarelo e rocho:
Voava sobre a terra: embriagou-se meu coração
Quetzal
Chego na época das chuvas:
Sobre as flores posso cantar:
Solto meu canto: alegra-se meu coração.
Tozquécol
A água das flores espuma sobre a terra:
Embriagou-se meu coração.
Quetzal
Choro e me sinto triste
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra.
Digo, eu que sou mexicano:
Sigo meu caminho.
Irei até Teucuantepec, perecerei como os de Chiltepec,
Como somente choram os de Amaxtlan e os de Xoctlan perecem.
Chora agora Tecuantepec.
Quarto tempo
Anônimo
Já está pronto o tamboril,
Será o baile, nobres guerreiros.
Peguem já suas finas pedras
E seus valiosos penachos de preciosa plumagem.
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra!
Em minhas mãos estão as flores
Que fazem viver o mundo.
Peguem já suas finas pedras
E seus vaidosos penachos de preciosa plumagem.
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra!
Netzahuapilli
O deus já está agitando seus guizos,
Aquele por quem tudo vive.
Acaba de conhecer Nonoalco e Huilizzapan,
E Atlacochtempan e Atlixco.
É o rei Netzahualpilli.
Um escravo vencido
Já empunhaste o esfolador.
Com ele dás prazer ao deus, Principe Netzahualpilli.
Meu coração se angustia pois sou de Nonoalco.
Ave do país do látex, porém de língua mexicana.
Quinto tempo
Um poeta
Desde o principio, amigos, o canto começa aqui.
É chegado aquele que faz a alegria dos guerreiros.
Nascestes no país do canto. Nasceste um deus.
Em tua casa a aurora se entrelaça:
Tuas flores, teus cantos são jade florescente.
Os brotos estão abrindo.
A guerra já acabou.
A vitória foi tua.
Agora nascem fragrantes flores: são tuas palavras.
E aquele por quem tudo vive se estende sobre Anáhuac.
Assim perdurará a cidade dentro da água.
Em tuas mãos permanece: somente tu a vês.
Em sua capital, os astecas criaram escolas e academias que ensinavam aos jovens a arte das “palavras belas".
Os astecas, ou mexicas, dominaram a maior parte do México, do Atlãntico ao Pacífico, até a Guatemala, do século XIII até o ano de 1519, quando chegaram os conquistadores espanhóis.
A língua dos astecas, o náhtl (cujo significado é “sonoro”, “audível”, era parte de uma família linguística, cujos dialetos estendiam-se desde o atual Utha (EUA) até a Nicarágua. O náhuatl era um idioma rico e versátil, igualmente apto a registrar com precisão os acontecimentos e a denotar idéias abstratas ou construir longos discursos sentenciosos, muito apreciados pelos Mexicanos. Por sua estrutura gramatical e fonologia, presta-se a paralelismos de sons e sentidos, a rimas e figuras de retórica.
Os primeiros nahuas chegram ao Vale do México por volta do século V d. C., vindos do nordeste, de Michoacán e Jalisco. Por volta do ano 900 d. C., uma nova onda de imigrantes nahua penetraram a região das grandes civilizações da Mesoamérica.
México-Tenochotlan, a capital asteca, foi fundada em 1325, a partir daí, os astecas ampliaram seus domínios para o centro e o sul da planície mexicana, levando à difusão da língua nahuatl, que não era imposta aos povos dominados, mas estes acabavam incorporando algumas de suas palavras e expressões.
Na capital foram criadas escolas e academias com o objetivo de ensinar aos jovens a arte de memorizar, recitar e cantar “palavras belas”. Nos templos, autores de poesia e canto eram pagos para prestarem serviços aos sacerdotes e à nobreza. Na cidade de Texcoco, o conselho de música organizava concursos de poesia. O rei Nezualcoyotl foi um dos principais poetas de seu tempo. Suas odes refletem uma filosofia serena e desiludida.
Os temas dos poemas e cantos astecas eram a beleza da vida, do mundo, das flores e a morte; eram organizados em ciclos, que também poderiam ser épicos, míticos ou históricos.
Os astecas deixaram suas obras literárias registradas em escrita pictografica. Seus livros são conhecidos hoje como “Códices”.
Trecho do poema “PEQUENA DANÇA DE NETZAHUALCÓYOTL” (Baliete de Netzahualcóyotl)
Cantares mexicanos (c. 1500)
Terceiro tempo:
Diálogo entre dois poetas disfarçados de aves
Tozquécol
Sou papagaio amarelo e rocho:
Voava sobre a terra: embriagou-se meu coração
Quetzal
Chego na época das chuvas:
Sobre as flores posso cantar:
Solto meu canto: alegra-se meu coração.
Tozquécol
A água das flores espuma sobre a terra:
Embriagou-se meu coração.
Quetzal
Choro e me sinto triste
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra.
Digo, eu que sou mexicano:
Sigo meu caminho.
Irei até Teucuantepec, perecerei como os de Chiltepec,
Como somente choram os de Amaxtlan e os de Xoctlan perecem.
Chora agora Tecuantepec.
Quarto tempo
Anônimo
Já está pronto o tamboril,
Será o baile, nobres guerreiros.
Peguem já suas finas pedras
E seus valiosos penachos de preciosa plumagem.
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra!
Em minhas mãos estão as flores
Que fazem viver o mundo.
Peguem já suas finas pedras
E seus vaidosos penachos de preciosa plumagem.
Ninguém é dono de sua própria casa sobre a terra!
Netzahuapilli
O deus já está agitando seus guizos,
Aquele por quem tudo vive.
Acaba de conhecer Nonoalco e Huilizzapan,
E Atlacochtempan e Atlixco.
É o rei Netzahualpilli.
Um escravo vencido
Já empunhaste o esfolador.
Com ele dás prazer ao deus, Principe Netzahualpilli.
Meu coração se angustia pois sou de Nonoalco.
Ave do país do látex, porém de língua mexicana.
Quinto tempo
Um poeta
Desde o principio, amigos, o canto começa aqui.
É chegado aquele que faz a alegria dos guerreiros.
Nascestes no país do canto. Nasceste um deus.
Em tua casa a aurora se entrelaça:
Tuas flores, teus cantos são jade florescente.
Os brotos estão abrindo.
A guerra já acabou.
A vitória foi tua.
Agora nascem fragrantes flores: são tuas palavras.
E aquele por quem tudo vive se estende sobre Anáhuac.
Assim perdurará a cidade dentro da água.
Em tuas mãos permanece: somente tu a vês.
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