terça-feira, 19 de outubro de 2010

POÉTICA 2

o segundo momento destes versos perversos
é o do dito pelo não dito
é o momento da via crucis pela via lactea
é o momento de ler o livro não publicado
e o poema sujo
é o momento de interromper o traço
descosturar o trapo
recolher as sobras e os retalhos
é o momento em que na sombra
se ouve o grito
e no qual o culpado fica esquecido
é o momento em que o que destrói
é o mesmo que reconstrói
este segundo momento
é o momento em que os fins justificam os meios
e o anjo se torna um filho da puta
é a hora em que a faca cega
faz sua tatuagem de sangue
em que os roto e o rasgado
se mostram à face do sagrado
é o momento de ser e não ser
de crer e não crer
de ver e deixar de ver
é o momento em que o crime
se torna castigo
é o momento em que o poeta digital
e o profeta periférico
dizem que nada será como ontem
assim como nada será como amanhã
e que o hoje esvai-se pelos dedos
e o poema soletra-se de cabeça para baixo
de baixo para cima
de dentro para fora
e de fora para dentro

Luiz Antonio Canuto

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