sábado, 21 de agosto de 2010

HOMENAGEM A GARCIA LORCA

Granada, Espanha, 19 de agosto de 1936, um poeta é assassinado pelo fascismo de Franco: FREDERICO GARCIA LORCA


ROMANCE SONÂMBULO




A Gloria Giner e Fernando de Los Rios




Verde que te quero verde.

Verde vento. Verdes ramas.

O barco no mar

E o cavalo na montanha.

Com a sombra na cintura

Ela sonha em seu balcão,

Verde carne, pêlo verde,

Com os olhos de fria prata.

Verde que te quero verde.

Sob a lua gitana,

As coisas a estão olhando

E ela não pode olha-las




Verde que te quero verde.

Grandes estrelas de escarcha,

Vêm com o peixe de sombra

Que abre o caminho da alba.

A figueira esfrega o seu vento

Com a lixa de seus ramos,

E o monte, gato larápio,

Eriça suas pitas acres.

Mas quem virá? E por onde...?

Ela continua em seu balcão,

Verde carne, pêlo verde,

Sonhando com o mar amargo.

Compadre, quero trocar

Meu cavalo por sua casa,

Meu arreio por seu espelho,

Minha faca por sua manta.

Compadre, venho sangrando,

Desde os portos de Cabra.




Se eu pudesse, mocinho,

Esse rato se fechava.

Porém eu já não sou eu,

Nem meu lar é mais meu lar.

Compadre, quero morrer

Decentemente em minha cama.

De aço, se puder ser,

Com os lençóis de Holanda.

Não vês a ferida que tenho

Do peito até a garganta?

Trezentas rosas morenas

Traz o teu peitilho branco.

Teu sangue ressuma e cheira

Ao redor de tua faixa.

Porém eu já não sou eu,

Nem meu lar é mais meu lar.

Deixa-me subir!, deixai-me

Até as verdes varandas.

Corrimões da lua

Por onde retumba a água.




Já sobem os dois compadres

Rumo às altas varandas.

Deixando um rastro de sangue.

Deixando um rastro de lágrimas.

Tremiam nos telhados

Candeeirinhs de lata.

Mil pandeiros de cristal

Feriam a madrugada.




Verde que te quero verde,

Verde vento, verdes ramas.

Os dois compadres subiram.

O longo vento deixava

Na boca um raro gosto

De fel, de menta e alfavaca.

Compadre! Onde estás, dize-me?

Onde está a tua jovem amarga?

Quantas vezes te esperou!

Quantas vezes te esperara,

Rosto fresco, cabelo negro,

Nesta verde varanda!




Sobre a boca da cisterna

Embalava-se a gitana.

Verde carne, pêlo verde,

Com olhos de fria prata.

Um carambano de lua

Sustenta-se sobre a água.

A noite tornou-se íntima

Como uma pequena praça.

Os guardas, bêbados,

Davam murros na porta.

Verde que te quero verde.

Verde vento. Verdes ramas.

O barco no mar.

E o cavalo na montanha.







Frederico Garça Lorca (1898-1936)

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